Secura nos olhos, falta de lágrima, sensação de areia nos olhos, incômodo e queimação podem ser sinais da síndrome do olho seco.
Já faz alguns anos a medicina reconheceu o papel crucial da lágrima para a saúde ocular. A lágrima, ou melhor, o filme lacrimal, além da função óbvia de lubrificação, fornece nutrientes e oxigênio para superfície ocular, tem função antibacteriana e até visual.
A lágrima é composta por 3 camadas. Uma camada mais externa, composta por lipídeos e produzida pelas glândulas de meibomius existentes na margem palpebral (foto abaixo), uma outra aquosa produzida pelas glândulas lacrimal principal e acessórias e uma mais interna produzida por células distribuídas na superfície ocular. Cada uma tem um função especifica e qualquer alteração em uma dessas 3 camadas compromete o filme lacrimal como um todo.
A produção lacrimal sofre influência de fatores hormonais (estrogênio e androgênio p.ex) e também de alguns estímulos externos, como poluição, alérgenos, trauma e emoção.
Uma doença cada vez mais comum é a síndrome do olho seco. O olho seco é uma doença crônica, caracterizada pela diminuição da produção da lágrima ou deficiência em alguns de seus componentes, ou seja, pouca quantidade e/ou má qualidade da lágrima.
Estima-se que quase 14% dos idosos apresentem sintomas de olho seco e que 10% utilizem lágrimas artificiais.
Mulheres na menopausa, usuários de lente de contato, pessoas com doença auto-imune, artrite reumatoide, síndrome de sjögren, lúpus ou que usam alguns medicamentos (antidepressivos, anti-histamínicos, diuréticos, beta-bloqueadores, tranquilizantes entre outros) estão mais propensos a sofrer dessa síndrome.
Pessoas que trabalham com computador especialmente em ambientes com ar condicionado são alguns dos pacientes mais frequentes nos consultórios oftalmológicos. Crianças que brincam muito com vídeo games também relatam esses sintomas.
Sintomas do olho seco
Geralmente, o quadro é leve e inclui sensação de areia, queimação, hiperemia (vermelhidão), fotofobia (intolerância a luz) e embaçamento. Esses sintomas costumam piorar no final do dia, nas condições de baixa umidade (ar condicionado, vento etc.) ou após períodos prolongados de leitura, televisão etc.
Lacrimejamento excessivo é um sintoma frequente, o que confunde o paciente. Na verdade, é um lacrimejamento reflexo do olho, na tentativa de combater uma superfície ocular doente.
Casos mais graves causam uma grande morbidade e podem levar a comprometimento da córnea e até a perda da visão.
Pacientes submetidos à cirurgia refrativa também podem apresentar, ainda que passageiro, um quadro de olho seco no pós operatório e isso deve ser avaliado e discutido antes da cirurgia.
O diagnóstico é feito pela história clínica e por exames de avaliação da lágrima relativamente simples e que podem ser feitos no consultório médico, como teste de schirmer, teste do corante de rosa bengala e tempo de rotura do filme lacrimal (BUT).
Como os sintomas são inespecíficos, deve-se fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças como alergia ocular, conjuntivites crônicas, blefarite, episclerite, etc.
Tratamento do olho seco
O tratamento é variado e complexo, nem sempre eficaz e deve ser individualizado para cada caso. É importante tentar diferenciar em qual das 3 camadas da lágrima há a alteração inicial, pois isso influencia o tratamento.
Lágrimas artificiais das mais variadas composições, anti-inflamatórios tópicos e orais, imunossupressores e até cirurgias (como oclusão dos orifícios de drenagem lacrimal) podem ser utilizados.
A suplementação alimentar com ácidos graxos essências (Omega 3) presente nos peixes (salmão, sardinha) e no óleo de linhaça são medidas úteis para quase todos os pacientes.
Este texto é de autoria do Dr. Renato Souza Oliveira
Oftalmologista formado pela UFRJ e com pós-graduação na UNIFESP
Contato pelo email: renatocso@bol.com.br
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