Quando falamos em queimaduras da pele, logo nos vem à cabeça as queimaduras térmicas, porém, existem outros tipos de queimaduras, nomeadamente queimaduras químicas, elétricas, por radiação, por frio e até por fricção. Neste texto vamos explicar como se calcula o grau das queimaduras e sua extensão, e quais são as complicações possíveis dos grandes queimados.
Se você está a procura dos cuidados inicias de queimaduras simples, leia: QUEIMADURAS SIMPLES | Tratamento e cuidados básicos. Sugerimos, porém, que leia este texto antes, pois o mesmo contém conceitos importantes que o ajudarão a entender melhor as queimaduras simples.
Para ver fotos de queimaduras: QUEIMADURAS | Fotos.
Para ler sobre as lesões provocadas pela inalação de fumaça nos incêndios, leia: INALAÇÃO DE FUMAÇA EM INCÊNDIOS.
Graus de queimadura
As queimaduras são classificadas de acordo com a sua profundidade e tamanho, sendo geralmente mensuradas pelo percentual da superfície corporal acometida.
Classicamente as queimaduras são classificadas em 1º, 2º e 3º graus, de acordo com a camada de pele acometida.
Queimaduras de primeiro grau: também chamada de queimadura superficial, são aquelas que envolvem apenas a epiderme, a camada mais superficial da pele. Os sintomas da queimadura de primeiro grau são intensa dor e vermelhidão local, mas com palidez na pele quando se toca. A lesão da queimadura de 1º grau é seca e não produz bolhas. Geralmente melhoram após 3 a 6 dias, podendo descamar e não deixam sequelas.
Queimaduras de 2º grau: atualmente é dividida em 2º grau superficial e 2º grau profundo. A queimadura de 2º grau superficial é aquela que envolve a epiderme e a porção mais superficial da derme. Os sintomas são os mesmos da queimadura de 1º grau incluindo ainda o aparecimento de bolhas e uma aparência úmida da lesão. A cura é mais demorada podendo levar até 3 semanas; não costuma deixar cicatriz mas o local da lesão pode ser mais claro.
As queimaduras de 2º grau profundas são aquelas que acometem toda a derme, sendo semelhantes às queimaduras de 3º grau. Como há risco de destruição das terminações nervosas da pele, este tipo de queimadura, que é bem mais grave, pode até ser menos doloroso que as queimaduras mais superficiais. As glândulas sudoríparas e os folículos capilares também podem ser destruídos, fazendo com a pele fique seca e perca seus pelos. A cicatrização demora mais que 3 semanas e costuma deixas cicatrizes
Queimaduras de 3º grau: são as queimaduras profundas que acometem toda a derme e atinge tecidos subcutâneos, com destruição total de nervos, folículos pilosos, glândulas sudoríparas e capilares sanguíneos, podendo inclusive atingir músculos e estruturas ósseas. São lesões esbranquiçadas/acinzentadas, secas, indolores e deformantes que não curam sem apoio cirúrgico, necessitando de enxertos.
Além da profundidade da queimadura, também é importante a extensão da lesão. Todo paciente com lesões de 2º ou 3º grau devem ser avaliados em relação ao percentual da área corporal atingida, de acordo com o diagrama exposto ao lado. Quanto maior a extensão das queimaduras, maiores os riscos de complicações e morte.
O diagrama não tem valor para queimaduras de 1º grau ou queimaduras solares. Não é preciso entrar em pânico se após um dia de sol você ficar com mais de 50% do corpo queimado.
Se as queimaduras não acometem um região inteira do corpo, um modo simples de calcular a extensão da lesão é usar a área de uma palma da mão como equivalente a 1% da superfície corporal.
A classificação de gravidade é feita da seguinte modo:
a) Queimadura leve:
– Menos de 10% da superfície corporal de um adulto com queimaduras de 2º grau.
– Menos de 5% da superfície corporal de uma criança ou idoso com queimaduras de 2º grau.
– Menos de 2% da superfície corporal com queimaduras de 3º grau.
b) Queimadura moderada:
– 10 a 20% da superfície corporal de um adulto com queimaduras de 2º grau.
– 5 to 10% da superfície corporal de uma criança ou idoso com queimaduras de 2º grau.
– 2 to 5% da superfície corporal com queimaduras de 3º grau.
– Suspeita de queimaduras do trato respiratório por inalação de ar quente.
– Queimaduras leves em pacientes com doenças que predisponham infecções como imunossupressão, diabetes (leia: DIABETES MELLITUS | DIAGNÓSTICO E SINTOMAS) ou anemia falciforme (leia: ANEMIA FALCIFORME (DREPANOCÍTICA) E TRAÇO FALCIFORME).
– Queimaduras em formato circunferencial, tipo pulseira, colar ou bracelete.
c) Queimadura grave:
– Mais de 20% da superfície corporal de um adulto com queimaduras de 2º grau
– Mais de 10% da superfície corporal de uma criança ou idoso com queimaduras de 2º grau
– Mais de 5% da superfície corporal com queimaduras de 3º grau
– Queimaduras elétricas por alta voltagem
– Queimaduras comprovadas do trato respiratório por inalação de ar quente
– Queimaduras significativas na face, olhos, orelhas, genitália ou articulações
– Outras graves lesões associadas a queimadura, como fraturas e traumas
Complicações das grandes queimaduras
A pele é o maior órgão do nosso corpo, serve de barreira contra a invasão de germes do exterior e contra a perda de calor e líquidos, sendo essencial para o controle da temperatura corporal. Qualquer paciente com critérios para queimaduras moderadas ou graves deve ser internado para receber tratamento imediato, pois há sério risco de complicações.
O primeiro problema das queimaduras é a quebra da barreira de proteção contra germes do ambiente, favorecendo a infecção das feridas por bactérias da pele e o desenvolvimento da sepse (leia: O QUE É SEPSE E CHOQUE SÉPTICO?).
Outra complicação é a grande perda de líquidos dos tecidos queimados. Quando a queimadura é extensa, a saída de água dos vasos é tão intensa que o paciente pode entrar em choque circulatório (leia: CHOQUE CIRCULATÓRIO | O que é? quais as suas causas?). A insuficiência renal aguda também é uma complicação grave nos grandes queimados (leia: INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA | Sintomas e tratamento) assim como a hipotermia por incapacidade do corpo em reter calor devido a granes áreas de pele queimada.
Quando a área do tórax e do pescoço são acometidas por queimaduras mais profundas, a cicatrização torna a pele muito rígida e retraída, o que pode atrapalhar os movimentos da respiração. Neste caso é necessária a escarotomia, uma incisão cirúrgica da pele de modo a impedir a que a falta de elasticidade da mesma cause compressão das estruturas internas. Como as mãos são áreas de intensa articulação e movimento, cicatrizações de queimaduras podem ser muito limitantes. Por isso, este tipo de queimadura deve sempre ser avaliada por um médico.
Queimaduras circunferenciais são perigosas pois há risco de compressão de estruturas internadas devido ao inchaço que qualquer queimadura provoca. No membros podem comprimir nervos e vasos. No pescoço podem comprimir as vias aéreas.
Outra grave complicação é a queimadura por inalação de ar quente que pode impedir o paciente de conseguir respirar adequadamente, seja por lesão direta dos pulmões ou por edema e obstrução das vias aéreas.
Quando as lesões são de 3º grau a pele não é capaz de se curar sozinha, sendo necessária a implantação de enxertos de pele para que o interior do organismo não fique exposto ao meio externo. Também é essencial a vacinação contra o tétano (leia: TÉTANO | VACINA E SINTOMAS).
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