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sexta-feira, 5 de agosto de 2016

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ASCITE | Causas e tratamento

A ascite, chamada popularmente de barriga d’água, é o nome que se dá ao acumulo de líquidos dentro da cavidade abdominal. A ascite não é uma doença, mas sim um sinal de doença, habitualmente do fígado, mas também pode ter origem em problemas dos rins, coração ou tumores malignos.

O líquido ascítico fica no interior da barriga, dentro da cavidade peritonial, ao redor dos órgãos intra-abdominais. Quando o volume de líquido é muito grande, os intestinos ficam literalmente boiando dentro do abdômen e o paciente apresenta perceptível aumento do volume abdominal. Em algumas doenças, a ascite pode ser tão volumosa, que o paciente apresenta uma distensão do abdominal semelhante às grávidas em fase final de gestação.

Neste artigo vamos explicar o que é a ascite, por que ela surge, quais são os seus sintomas e quais as formas de tratamento disponíveis.

O que é ascite

Chamamos de edema os inchaços provocados pelo acúmulo de líquido na pele. Se as suas pernas incham, é porque há retenção de líquido no tecido subcutâneo. Quando esse acúmulo de líquido ocorre não na pele, mas sim dentro da cavidade abdominal, o nome que damos é ascite.  Porém, apesar de terem nomes diferentes, o mecanismo de formação da ascite é basicamente o mesmo dos edemas da pele (leia: INCHAÇOS E EDEMAS).

De forma resumida podemos dizer que a ascite forma-se pelo extravasamento de líquido dos vasos sanguíneos que irrigam o peritônio para dentro da cavidade peritonial. Na maioria dos casos, essa incapacidade dos vasos sanguíneos de reter os líquidos dentro de si mesmos ocorre por uma das 3 situações abaixo:

  •  Aumento na pressão hidrostática dentro dos vasos, como a que ocorre quando há uma obstrução ao fluxo sanguíneo normal, como nos casos de varizes ou por um trombo, por exemplo.
  • Quando o paciente apresenta alguma doença que leve à retenção de sal e água pelos rins, fazendo com que o volume de água na circulação sanguínea se eleve consideravelmente.
  • Quando o paciente apresenta um redução na concentração de proteínas do sangue, já que as proteínas, como a albumina, exercem efeito osmótico (chamada pressão oncótica), que ajuda a segurar água dentro dos vasos.

Em situações normais, a quantidade de líquido dentro da cavidade abdominal é nula. Algumas mulheres, contudo, podem ter pequenos volumes de líquido livre, ao redor de 10 a 20 ml, em algumas fases do ciclo menstrual, sem que isso signifique qualquer problema. Nada que se compare aos vários litros de ascite que os pacientes com cirrose, por exemplo, podem desenvolver.

Causas de ascite

A principal causa de ascite é a cirrose hepática. A cirrose causa as três alterações descritas acima (obstrução do fluxo sanguíneo, retenção a de água e sal, e perda de proteínas do sangue) e pode cursar com ascites volumosas, frequentemente com mais de 10 litros de líquido ascítico na cavidade abdominal.

A cirrose hepática, normalmente secundária à hepatite viral ou por abuso de bebidas alcoólicas, é responsável por até 85% dos casos de ascite. Os outros 15% são divididos entre as seguintes doenças:

Sintomas da ascite

A ascite volumosa, principalmente em pessoas magras, é facilmente reconhecida, e até leigos conseguem notar a sua presença. Como já referido, o paciente com ascite passa a apresentar um nítido aumento do volume abdominal.

Nos doentes obesos ou nos casos em que o acumulo de líquido não seja muito grande, podem haver dúvidas no diagnóstico. Nestes casos, um exame de ultra-sonografia ajuda a esclarecer se há ou não líquido livre dentro da cavidade abdominal.

O que habitualmente ajuda na identificação da ascite é o fato desta vir com frequência acompanhada de outros sintomas de doença hepática, tais como a icterícia, aumento do volume do fígado, presença de circulação colateral na barriga, etc.

A ascite, quando muito volumosa, causa intenso desconforto ao paciente. Muitas vezes, a quantidade de líquido é tão grande que distende a parede do abdômen, provocando hérnias umbilicais, dor abdominal e dificuldade respiratória por restrição à movimentação do diafragma.

Uma das complicações da ascite é a infecção da mesma. O líquido ascítico é um ótimo meio de cultura, e, frequentemente, as bactérias dos intestinos conseguem deslocar-se para a cavidade peritonial, infectar a ascite e provocar um quadro chamado peritonite.

Tratamento da ascite

O melhor meio de retirar o excesso de líquido do abdômen é através de um procedimento chamado paracentese, que consiste na introdução de uma agulha ligada a uma bolsa coletora para drenagem do líquido ascítico. A paracentese é um procedimento simples, realizado com anestesia local e praticamente indolor.

Além da possibilidade da drenagem de vários litros de ascite para alívio sintomático do paciente, a paracentese também serve como procedimento diagnóstico, uma vez que podemos aproveitar amostras da ascite para avaliação bioquímica e para pesquisa de infecções e de células cancerígenas.

Assim como nos edemas dos membros inferiores, o uso de diuréticos, como lasix e espironolactona, também ajuda a impedir o acúmulo de água dentro da cavidade peritonial. Porém, em casos de cirrose avançada, essas drogas são pouco efetivas, e a única opção é mesmo a realização de paracenteses de forma regular, sempre que o abdomên estiver muito distendido.

O líquido ascítico normal é amarelo claro transparente, semelhante à urina. Em casos de infecção da ascite, o líquido torna-se turvo e, por vezes, purulento. Nas ascites secundárias a neoplasias do peritônio, a ascite pode ser sanguinolenta.

Nos casos de infecção do líquido ascítico, o paciente deve permanecer internado para tratamento com antibióticos. A não erradicação da infecção pode levar à sepse (leia: O QUE É SEPSE E CHOQUE SÉPTICO?) e consequentemente ao óbito.

A paracentese ajuda na drenagem da ascite e na investigação diagnóstica, porém, não age na causa central da formação da ascite. Se nada for feito para controlar o acumulo de líquido intra-abdominal, a paracentese torna-se apenas um procedimento paliativo, já que o líquido estará todo de volta em questão de dias ou semanas.

O tratamento definitivo da ascite consiste no tratamento da doença de base. A restrição do consumo de sal e o uso de diuréticos (leia: PARA QUE SERVEM OS DIURÉTICOS?) são duas medidas essenciais para tentar impedir a formação de ascite enquanto não se consegue controlar a doença primária.

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