A pílula anticoncepcional é uma forma de controle de natalidade disponível no mercado desde a década de 1960. No início, as pílulas continham grandes quantidades dos hormônios progesterona e estrogêneo, o que era responsável pela alta taxa de efeitos colaterais, incluindo alguns graves, como trombose, AVC e doenças cardiovasculares. Desde a década de 1980, porém, a quantidade de hormônios presente na pílula anticoncepcional vem diminuindo progressivamente, principalmente a concentração dos estrogênios. O objetivo atual da comunidade científica é obter uma contracepção eficaz com uma quantidade mínima de hormônios.
Essa procura por anticoncepcionais orais que contenham a menor quantidade possível de hormônios sem perder a eficácia contraceptiva deu origem a chamada minipílula, uma pílula anticoncepcional composta apenas pelo hormônio progesterona. A minipílula, ao contrário dos anticoncepcionais orais tradicionais, não contém o hormônio estrogênio em sua fórmula.
Neste artigo vamos abordar exclusivamente a minipílula, incluindo explicações sobre as opções comercialmente disponíveis, formas de uso, indicações e efeitos colaterais.
Para saber mais sobre os outros métodos de controle de natalidade, acesse o nosso arquivo de textos sobre o assunto: ARTIGOS SOBRE MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS.
O que é a minipílula
Conforme referido na introdução deste artigo, a minipílula é uma pílula anticoncepcional composta exclusivamente pelo hormônio progestina, que é a forma sintética da progesterona.
A lógica por trás do desenvolvimento da minipílula é permitir que as mulheres consigam ter um anticoncepcional em comprimidos que seja eficaz, mas que não possua o hormônio estrogênio, responsável pela maioria dos efeitos colaterais indesejáveis das pílulas tradicionais.
No Brasil existem 3 formulações diferentes de minipílula, cada uma com uma progestina diferente:
- Noretisterona 0,35 mcg (nomes comerciais: Norestin, Micronor).
- Desogestrel 0,075 mcg (nomes comerciais: Cerazette, Nactali, Juliet, Kelly).
- Linestrenol 0,5 mcg (nomes comerciais: Exluton).
Exceto pelo Linestrenol, as outras duas progestinas também podem ser encontradas em anticoncepcionais tradicionais, junto com estrogênio, como são os casos do Mesigyna (estradiol + noretisterona) e do Femina (etinilestradiol + desogestrel), por exemplo.
Como funciona a minipílula
A minipílula exerce seu efeito contraceptivo de várias formas. Assim como a pílula de estrogênio e progesterona, a minipílula também age impedindo a ovulação. Porém, esse efeito supressor da ovulação é bem mais fraco que os dos anticoncepcionais tradicionais. A minipílula tem sucesso como método contraceptivo porque ela exerce pelo menos mais dois efeitos sobre o sistema reprodutor feminino. A pílula de progesterona torna muco cervical mais espesso, dificultando a vida dos espermatozoides, que não conseguem chegar às trompas para encontra o óvulo. Além disso, existe ainda um terceiro efeito. Mesmo que a mulher ovule, mesmo que o espermatozoide consiga chegar ao óvulo para fecundá-lo, a minipílula também age tornando a parede interna do útero mais fina, dificultando a implantação deste possível óvulo fecundado, impedindo assim a ocorrência de uma gravidez.
Portanto, para que a minipílula falhe, são necessários, pelo menos, 3 falhas consecutivas no seu mecanismo de ação. Quando tomada de forma correta, a taxa de sucesso chega a ser de 99%. Na prática, porém, a taxa de sucesso da minipílula fica ao redor de 92%. O problema não é propriamente falha da pílula de progesterona, mas sim falha das pacientes em tomar a droga corretamente. Como veremos a seguir, para a minipílula funcionar corretamente, ela exige um pouco mais de disciplina em relação a horários que as pílulas tradicionais.
Quem deve tomar a minipílula
A minipílula pode ser tomada por praticamente todas as mulheres que procuram um método contraceptivo. Todavia, ela é especialmente útil para aquelas mulheres com maior risco de efeitos colaterais causados pelo estrogênio. Exemplos desta situação são as mulheres com mais de 35 anos, fumantes, hipertensas, com sobrepeso, diabéticas, portadoras de enxaqueca, mulheres com maior risco de eventos trombóticos, etc. A minipílula não aumenta o risco cardiovascular nem facilita o desenvolvimento de tromboses. Ela também não provoca enxaquecas, não costuma alterar a libido nem provocar ganho de peso.
A minipílula também pode ser utilizada durante o aleitamento materno, pois ela não interrompe a produção de leite e não faz mal nenhum para o bebê. Explicaremos mais à frente como as lactantes devem tomá-la.
A pílula de progesterona não deve ser indicada para mulheres que tenham problemas de falta de disciplina com medicamentos. Se você é daquelas pessoas que vive esquecendo a hora dos remédios ou que frequentemente falha a toma da pílula convencional, a minipílula não é uma boa opção. Nestes casos, o DIU é um alternativa muito melhor (leia: DIU E DIU MIRENA | Anticoncepcional intra-uterino).
Como tomar a minipílula
A minipílula pode ser iniciada em qualquer momento do ciclo, porém, o mais indicado é que a cartela seja iniciada no primeiro dia do ciclo, ou seja, no primeiro dia da menstruação. Se a pílula de progesterona for inciada no primeiro dia do ciclo, o seu efeito contraceptivo é imediato, não havendo necessidade do uso de um método contraceptivo complementar, como a camisinha. Se, por outro lado, a minipílula for inciada em qualquer outro dia do ciclo, o ideal é usar camisinha nos 7 primeiros dias, caso você tenha relações sexuais. É provável que a partir do 2º dia de pílula você já esteja protegida, mas, em geral, por segurança, sugerimos 7 dias de intervalo.
A minipílula deve ser tomada de forma ininterrupta. Cada cartela possui 28 comprimidos e não há pausa entre uma cartela e outra. A minipílula deve ser tomada na mesma hora todos os dias. Essa é a sua principal desvantagem. Um simples atraso de mais de 3 horas é suficiente para a pílula perder o seu efeito protetor.
O que fazer se a mulher esquecer de tomar a minipílula na hora correta
Caso a mulher esqueça de tomar a minipílula na hora correta, ela deve tomá-la assim que se lembrar. A pílula deve estar sempre à mão, de preferência na bolsa para que possa ser tomada em qualquer hora, mesmo que a mulher esteja fora de casa. Se o esquecimento for maior que 3 horas, nos próximos 2 dias qualquer relação sexual deve ser feita com camisinha. Após 48h, o muco volta a ficar suficientemente espesso para impedir a progressão dos espermatozoides.
Se a mulher vomitar nas 3 primeiras horas após ter tomado sua dose diária, por segurança deve-se proceder como uma dosagem falhada. A mulher deve tomar a pilula novamente e dar 2 dias de margem de segurança para ela voltar a agir. Diarreia não costuma ser problema, a não ser que a mesma seja muito intensa, com várias dejeções por dia. Neste caso, a minipílula deve ser interrompida até resolução do quadro.
Como realizar a troca da pílula convencional para a minipílula
A mulher que deseja trocar de método anticoncepcional deve fazê-lo no dia seguinte ao do último comprimido da cartela. A paciente acaba a cartela do seu anticoncepcional tradicional hoje e amanhã já inicia a minipílula. Desta forma não há interrupção do efeito contraceptivo.
Se o anticoncepcional for injetável, a minipílula deve ser iniciada no dia que a próxima injeção deveria ser administrada. Se for DIU, a minipílula deve ser iniciada no dia da retirada do dispositivo.
Como tomar a minipílula durante a amamentação
Mulheres que estão amamentando podem iniciar a minipílula após a 6ª semana pós-parto. Em geral, não há ovulação neste período e o não uso de minipílula nos primeiros dias minimiza qualquer influência hormonal na fase inicial da produção de leite. Após a produção de leite estar plenamente estabelecida, a minipílula não interfere em nada.
Nas mulheres que não fazem aleitamento exclusivo e alternam as mamadas com fórmulas artificiais, o risco de ovulação antes das primeiras 6 semanas é maior, por isso, a minipílula deve ser iniciada a partir da 3ª semana.
Como tomar a minipílula após o parto
Se você não está amamentando, a minipílula pode ser inciada no dia seguinte ao do parto. Como as mulheres não ovulam nas primeiras 3 semanas após o parto, a minipílula pode ser inciada com segurança em qualquer momento dentro deste intervalo. Se a pílula de progesterona for iniciada nos primeiros 21 dias após o parto, nenhum método contraceptivo complementar é necessário. Entretanto, se a minipílula for iniciada após o 21º dia, um método adicional deve ser utilizado por 2 a 7 dias.
Como tomar a minipílula após um aborto
A minipílula deve ser iniciada no dia seguinte a um aborto. Não é necessário nenhum método contraceptivo complementar.
Antibióticos cortam o efeito da minipílula?
Assim como corre com as pílulas compostas de estrogênio e progesterona, os antibióticos não cortam o efeito da minipílula. A única exceção é um antibiótico chamado rifampicina (ou o seu derivado rifabutina).
Se você deseja maiores informações sobre esse assunto, acesso o seguinte artigo: Antibióticos Cortam o Efeito dos Anticoncepcionais?
Efeitos colaterais da minipílula
O principal efeito colateral da minipílula é a irregularidade menstrual. Em algumas mulheres podem haver perdas isoladas de sangue ao longo ciclo ou ciclos menstruais com calendário completamente imprevisível. As irregularidades menstruais são mais comuns naquelas mulheres que não tomam a minipílula na mesma hora todos os dias.
A maioria das mulheres que toma a pílula de progesterona continua a menstruar, geralmente de forma regular, mas o fluxo reduzido. Há casos, porém, de aumento do fluxo menstrual com o uso da pílula de progesterona.
Alterações da menstruação são a principal queixa das usuárias da minipílula.
Outro efeito colateral possível é a acne. Esse efeito é muito individual, mas nas mulheres que já têm problemas com acne, a minipílula pode agravar o quadro.
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