A escarlatina é uma infecção de origem bacteriana, que se manifesta habitualmente com os sintomas de dor de garganta, febre e erupções avermelhadas na pele (rash cutâneo), que começam na cabeça e vão se espalhando de forma descendente por todo o corpo.
A escarlatina é uma infecção que ocorre mais frequentemente em crianças na idade escolar, mas pode acometer também adultos.
Neste artigo vamos explicar o que é a escarlatina, quais são os seus sintomas, as formas de transmissão e as opções de tratamento disponíveis.
O que é escarlatina?
A escarlatina é uma doença causada pela bactéria Estreptococo beta hemolítico do grupo A, também conhecida como Streptococcus pyogenes. O S. pyogenes é a mesma bactéria que provoca outras infecções, tais como:
– Faringite ou amigdalite bacteriana (leia: DOR DE GARGANTA – FARINGITE E AMIGDALITE).
– Erisipela (leia: ERISIPELA | CELULITE | Sintomas e tratamento).
– Impetigo (leia: IMPETIGO COMUM e IMPETIGO BOLHOSO | Sintomas e tratamento).
– Glomerulonefrite pós-infecciosa aguda (leia: O QUE É UMA GLOMERULONEFRITE?).
– Febre reumática (leia: FEBRE REUMÁTICA | Sintomas e tratamento).
Na verdade, a escarlatina é uma reação do organismo a toxinas produzidas pela bactéria Streptococcus pyogenes, geralmente durante um episódio de faringite ou amigdalite bacteriana. Mais raramente, a escarlatina pode desenvolver-se devido a um quadro de impetigo ou erisipela.
Toxinas produzidas pelo Estreptococo beta hemolítico do grupo A desencadeiam uma reação inflamatória na pele, que manifesta-se tipicamente com exuberantes manchas vermelhas por todo o corpo, sinal mais típico da escarlatina.
A escarlatina, porém, só ocorre em cerca de 10% das faringites por Streptococcus pyogenes, porque nem todas as pessoas apresentam sensibilidade às toxinas produzidas pela bactéria. É perfeitamente possível, por exemplo, haver em uma mesma casa um irmão que desenvolva escarlatina e outro que tenha apenas um quadro comum de amigdalite. Tudo depende da forma com o sistema imunológica de cada indivíduo reage à presença das toxinas produzidas pelo Estreptococo.
A escarlatina é mais comum em crianças entre 5 e 15 anos. A partir da adolescência, mas de 80% das população já possui anticorpos contra as toxinas do Estreptococo, motivo pela qual a escarlatina é pouco comum nos adultos e não costuma surgir mais de uma vez na vida.
Como se pega escarlatina?
A bactéria Streptococcus pyogenes costuma ser transmitida de uma pessoa para outra através do contato com secreções das vias respiratórias. Entre as formas possíveis de transmissão da bactéria estão a tosse, o espirro e o contato com saliva, seja através do beijo, de gotículas durante a fala, ou pelo compartilhamento de copos ou talheres.
A transmissão através de mãos contaminadas com secreções respiratórias também é muito comum, sendo a higienização adequada e frequente das mãos uma importante medida de controle da transmissão. Toalhas, roupa de cama e roupas pessoais também podem ser uma fonte de transmissão.
A bactéria Streptococcus pyogenes é extremamente contagiosa. Apenas 12 horas após ter sido contaminado, o indivíduo já é capaz de transmiti-la para outras pessoas, mesmo que ainda não tenha desenvolvido qualquer doença ou sintoma. O período de contágio costuma terminar 12 horas após o fim da febre ou 24 horas após o início do tratamento antibiótico.
Mais uma vez, vale a pena lembrar que apenas uma pequena fração das pessoas que entram em contato com o Estreptococo beta hemolítico do grupo A acaba desenvolvendo escarlatina. O fato da bactéria ser altamente contagiosa não significa que necessariamente todo mundo que foi contaminado irá ficar doente.
Sintomas da escarlatina
O período de incubação da escarlatina é de 2 a 5 dias. O início do quadro costuma ser abrupto, com inflamação na garganta, dores pelo corpo e febre acima de 38,5ºC. Aumento dos gânglios do pescoço, dor de cabeça, dor abdominal, náuseas e vômitos também podem estar presentes. 12 a 24 horas após o início do quadro, surge o sinal característico da doença, que é o rash cutâneo.
O rash da escarlatina normalmente inicia-se na cabeça ou pescoço e desce pelo corpo ao longo das horas seguintes, em padrão de dispersão chamado craniocaudal. As palmas das mãos e as plantas dos pés costumam ser poupados.
O acometimento da pele pela escarlatina caracteriza-se pelo aparecimento de numerosas erupções avermelhadas de 1 a 2 mm, com discreto relevo, que podem dar à pele uma textura levemente áspera. Além de serem muito avermelhadas, as lesões da escarlatina costumam se tornar transitoriamente pálidas quando pressionamos a pele acometida com o dedo. Alguns pacientes queixam-se de coceira, mas isso não ocorre em todos os casos.
Essas lesões do rash costumam se aglomerar nas áreas de dobras, como axilas, virilhas, prega do cotovelo, formando uma linha bem vermelha nestas regiões, que recebe o nome de linhas de Pastia.
Outro achado característico é a chamada “língua em framboesa”. A língua fica inchada e as suas papilas muito avermelhadas, o que causa o aparecimento de múltiplos pontinhos vermelhos na língua. Palidez ao redor dos lábios também é outra manifestação comum da escarlatina. O acometimento da língua pode surgir antes do aparecimento das erupções na pele.
Nos primeiros dias do quadro pode haver uma capa branca por cima língua, mas esta desaparece geralmente no 4º dia.
Após uma semana de rash cutâneo, as manchas avermelhadas começam a desaparecer, ocorrendo uma descamação, principalmente nos dedos das mãos, dos pés, virilhas e axilas.
O diagnóstico da escarlatina é normalmente feito clinicamente, através do exame físico. Se houver dúvidas, o médico pode colher amostras da orofaringe para pesquisa do Streptococcus pyogenes.
Para ver mais fotos de escarlatina, acesse o seguinte link: ESCARLATINA | FOTOS
Complicações da escarlatina
Até o início do século XX, a escarlatina era considerada uma infecção grave, pois não havia tratamento adequado e as complicações eram muito comuns. A mortalidade chegava a ser de 20%. Com o advento dos antibióticos, porém, a taxa de complicações despencou, tornando a erisipela uma doença com ótimo prognóstico. Atualmente, a taxa de mortalidade é menor que 1%.
Quando não tratada, a escarlatina pode complicar com formação de abcesso na garganta ou infecções nos pulmões, rins, coração, ouvidos ou sistema nervoso. A febre reumática e a glomerulonefrite pós-estreptocócica são complicações raras atualmente, mas que ocorriam com relativa frequência no passado.
Tratamento da escarlatina
O tratamento da escarlatina é feito com antibióticos, de forma a eliminar o Estreptococo beta hemolítico do grupo A e interromper, assim, a produção das toxinas que provocam as reações na pele. Além de curar os sintomas, o tratamento com antibiótico também é importante para reduzir o risco de transmissão da bactéria para outras pessoas e, principalmente, para reduzir o risco do paciente desenvolver as complicações citadas acima.
O antibiótico de escolha no tratamento da escarlatina são a penicilina V ou a amoxicilina (leia: AMOXICILINA E AMOXICILINA COM CLAVULANATO | Bula simplificada). O tempo de tratamento indicado é 10 dias. Uma opção com posologia mais simples é a penicilina benzatina, que é administrada por via intramuscular em dose única (leia: PENICILINA BENZATINA | Injeção de benzetacil).
Nos pacientes alérgicos à penicilina, a eritromicina é uma alternativa viável (leia: ALERGIA À PENICILINA).
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